Saturday, July 31, 2010

olhos de ressaca

"E por fim cresci, de insulto em insulto, eu me vi como um adulto, pronto para o que mesmo? Já nem sei."
(Pullovers - Tudo o que eu sempre sonhei)

São 23 anos nas costas. E, por mais novo que eu seja, sei de bastante coisa. A gente meio que aprende algumas coisas necessárias ao convívio social, pelo menos para o próprio. E depois de tanto ser vítima de falácia, a gente meio que aprende a detectar quem se pode confiar e quem não presta. É sério, isso é muito real. Não é nada de telepatia, tô longe de ser uma Mãe Diná, mas eu consigo identificar. É sempre assim: quando eu fico com um pé atrás, mas mesmo assim dou uma chance para a pessoa, eu sempre quebro a cara depois. Mas eu aprendi, agora toda relação tem um limite. E como eu descubro? Pelo olhar. É incrível o que os olhares alheios podem dizer. Realmente quando o mestre disse que "os olhos são o espelho da alma" ele tinha razão. Oscar Wilde também tinha razão quando disse que escolhia seus amigos pelos olhos. Ainda se torna fácil saber quando um amigo seu começa a ser dissimulado, pois o olhar se altera.
Como todo esse assunto eu acabo me lembrando de Capitu: "olhos de cigana oblíqua e dissimulada". E eu tô cansado destes olhos de ressaca.

Saturday, March 13, 2010

Ele

Ele não aguentava mais. Tinha resistido por muito tempo, tentou de muitas formas e nada. Agora sentia-se cansado, impotente e um tanto quanto culpado diante da antiga constatação: a maioria dos seres humanos lhe eram incompreensíveis. Por vezes não lhes entendia a fala, o raciocínio, o jeito que levavam a vida. Para ele, eles eram completos estranhos. Quando deparava-se com questões comuns e percebia que seus sentimentos e forma de encarar as coisas eram completamente distintas dos demais, sentia-se só. Devaneava a respeito de ter vindo de outro lugar, de pertencer a outra raça. Essa percepção lhe ocorrera havia muito, mas ele não queria acreditar. Durante a maior parte de sua vida tentou reverter essa sensação. Observou atentamente como eles agiam, e passou a imitá-los. Não era difícil. Aprendeu tudo, e sorria na hora em que devia sorrir, dizia as coisas que deviam ser ditas, procurou comportar-se exatamente como eles para não chamar tanta atenção. Sabia a hora do comentário correto, sabia quando dizer “graças a deus”, mesmo não tendo certeza que deus era aquele. As normas de convivência que lhe foram passadas eram muito antigas e pertenciam àquele povo desde o começo dos tempos, e todos as seguiam sem titubear. Era assim, e pronto. Certa vez, cometeu o disparate de fazer perguntas. Diante da hostilidade e da surpresa alheia, ele se calou. Teve medo. Medo de ficar sozinho, de ser banido, de estar errado, de ser julgado e condenado culpado por viver diferente. Sufocou a própria perplexidade e viveu assim durante um bom tempo. No fundo, sentia pena. Olhava para aquelas pessoas e os via tão pequenos, mergulhados em questões superficiais, tão mais preocupados com a aparência e a vida do próximo do que delas próprias. Achava que perdiam tempo. Sofria por vê-los tão ignorantes, sem curiosidade, sem vontade de aceitar ou buscar o novo, apáticos, admitindo cegamente tudo que lhes era imposto. Não entendia porquê julgavam-se uns aos outros tão ferozmente, sempre prontos a apontar o dedo ao mínimo indício de falha alheia e pior: na grande maioria das vezes falavam sem saber, simplesmente presumiam com base na parca bagagem que tinham. O mais estarrecedor de tudo é que pareciam idiotamente felizes. Tinham ambições comuns e eram formatados para isso: nascer, crescer, casar e procriar, buscar estabilidade financeira. Um belo carro, uma bela casa, um belo corpo. Os que alcançavam esses feitos eram considerados vencedores. E depois morriam, e outro deles nascia, e o ciclo continuava interminavelmente. Entre esses, alguns por vezes se mostraram mais evoluídos: apesar de toda a formatação que haviam sofrido foram mais a fundo, questionaram, e compreenderam a mediocridade humana. Esses escapavam. E ele realmente acreditou que tivesse encontrado um jeito de viver entre eles. Até agora. De repente ele se pegou andando pela casa, aflito, murcho. Sentia-se como uma bomba relógio prestes a explodir. Já estava impossível continuar fingindo, e aceitar aqueles pequenos humanos se tornou uma tarefa mais extenuante do que o normal. Era o limite. Mergulhou num enorme conflito: que direção seguir? Sim, estava tudo calmo porém muito sem-graça, ele sentia-se sendo minado aos poucos e achava que a qualquer momento iria simplesmente se apagar. E ele sabia que era fogueira demais pra se deixar virar fagulha. Decidiu abdicar da calma. Passou a buscar os seus iguais, e lentamente ao longo da estrada os foi encontrando, um a um. Nesse momento não eram muitos, mas eram os dele. Aqueles ali a entendiam e partilhavam das mesmas convicções, viviam de forma parecida. Depois descobriu que nunca seriam tantos, não era pra ser assim. Existia a maioria, e existiam eles. Enfim, um pouco de paz. Continuou convivendo com aqueles humanos tão estranhos, mas reservou para si e para os seus as suas partes mais vivas porque necessitava ser compreendida. Fechou-se para a pequenez dos demais e assim conseguiu, de vez em quando, ser feliz.

Saturday, October 24, 2009

8 ou 80

Ultimamente tenho ouvido de tantas pessoas que sou mal humorado, antipático, que não gosto de ninguém. E o que eu acho mais engraçado é que essas pessoas, pelo menos a maioria delas, vem me falar isso com a intenção de talvez me ofender, fazer com que eu me sinta mal se não sorrio toda hora. O que eles não sabem é que eu sou antipático com orgulho, só sorrio pra quem provoca o meu sorriso. Foda-se quem não curtir. Isso se chama autenticidade, coisa que, para pessoas "perfeitas", não existe.

Monday, September 21, 2009

Amor em tempos de ceticismo



Pirando num livro de um cara chamado Alain de Botton. Se alguém o fosse descrever, talvez dissesse “é um livro que fala de amor”; e essa seria uma definição que muito provavelmente me afastaria desse livro. Porque eu sinto que falar bem de amor é algo quase impossível nos dias de hoje. Porque as últimas coisas que eu li sobre esse tema não me trouxeram nada de novo e eu achei sacal aquele amontoado de lugares-comuns superficiais, e fez com que lá no meu íntimo eu considerasse esse papo bem chato e irrelevante. É um assunto óbvio. E conseguir olhar diferente pra algo óbvio é bem difícil. Mas eis que me deparo com esse livro, que é a história de um triângulo amoroso só que contado sob um ponto de vista bem filosófico. E é aí que a coisa fica mais intensa. Ele se dedica a decifrar a personalidade dos personagens numa viagem psicológica através dos pequenos atos e pensamentos e aspirações românticas de cada um, utilizando citações e referências de vários pensadores. Tô no comecinho, mas já fui fisgado. Este livro me caiu nas mãos por meio de um trecho que li uma vez (como comentei no post passado). Eu tenho a mania de grifar frases e sentenças que chamam a atenção. Contei uma vez pra um professorque sempre me senti meio culpado por isso, por sublinhar e fazer anotações nos rodapés de todos os livros que realmente me identifico. Achava que podia os estar estragando, ou pior: condicionando o próximo leitor a prestar atenção em coisas que eram importantes só para mim. E, ao contar isso, me dei conta de uma coisa: grifar nos revela. Ele concorda, mas não acha perigoso. Acha que grifar nos revela de algumas maneiras que abrem outras perguntas. Eu vou ler este livro sem pressa. Parando de vez em quando e fechando a página pra ficar olhando pro nada.


Em tempo: o livro se chama “O Movimento Romântico”.

Sunday, September 20, 2009

Comprei um livro chamado "O Movimento Romântico" de Alain de Botton. Ainda não li por falta de tempo. O que me chamou mais atenção nele foi um trecho que li e que parece que fui eu que escrevi, tamanha identificação:

“… Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar…”

Tuesday, September 08, 2009

Trapézio!

Depois da ressaca física sempre vem a ressaca moral. Ainda não descobri porque isso acontece. Talvez porque às vezes eu fique mais animado que a festa, e sincero demais, e aí pronto. No outro dia, as parcas lembranças que eu tenho são permeadas de ais e uis, e uns “aimeudeus” sussurrados para mim mesmo. Só sei que ontem de noite foi incrível e eu me diverti loucamente. Só preciso me lembrar de comprar um óculos escuros da próxima vez, porque a claridade das 7h da manhã é cruel.

Outro assunto a ser comentado aqui:
"É difícil crer que ainda possamos nos surpreender com as lambanças do Congresso, especialmente do Senado, que talvez pudesse simplesmente deixar de existir sem causar nenhum prejuízo. Mas as recentes declarações sobre o Projeto de Lei Eleitoral que será votado são de dar arrepios. O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), autor do projeto de censura à internet que ficou conhecido como Lei Azeredo, demonstra o total desconhecimento da rede. Segundo o entendimento dele, a internet é ao mesmo tempo televisão e rádio, e por isso deveria obedecer as regras destes meios – leia-se: espaço idêntico para todos os políticos em época de campanha. Internet é um arranjo comunicacional distribuído. Nela, qualquer pessoa que esteja conectada e que tenha o mínimo de formação pode criar um blog e integrar uma rede social. Infelizmente, é exatamente esta qualidade que alguns Deputados e Senadores querem bloquear nas eleições de 2010. O pior é tentar impedir que a blogosfera exerça seu direito político de criticar os candidatos e de usar da arte e do humor para comunicar uma mensagem contrária a algum político. Numa das versões desse projeto de reforma eleitoral estava proibido “a trucagem”, “montagem” e “qualquer efeito realizado em áudio e vídeo que degradar ou ridicularizar candidato, partido ou coligação”. O que é ridicularizar? O que é “trucagem”, um termo usado nos anos 1940 e 1950 para falar das técnicas de fotográficas analógicas? Eles estão querendo dizer que está proibida a “remixagem”, a recombinação? Sinto muito, ridícula é a tentativa inconstitucional de impedir a crítica, restringir formatos e estilos de narrativas. Uma coisa é a calúnia, a injúria e a difamação. Isto já é proibido. Outra coisa é uma sátira, uma crítica teatralizada e bem humorada, isto não pode ser impedido."

Tenho somente uma coisa a dizer sobre isso e ela será dita em uma imagem:


Monday, August 31, 2009

Todos estão mudos!



Já não ouço mais clamores nem sinal das frases de outrora
Os gritos são suprimidos, o corvo diz: "nunca mais"
Não parece haver mais motivos ou coragem pra botar a cara pra bater
Um silêncio assim pesado nos esmaga cada vez mais

Não espere, levante, sempre vale a pena bradar
É hora, alguém tem que falar!


Há quem diga que isso é velho, tanta gente sem fé num novo ar
Mas existe o bom combate, é não desistir sem tentar...